quarta-feira, 18 de abril de 2012
Por um mundo melhor!!!: II CONFERÊNCIA MUNICIPAL DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA...
Por um mundo melhor!!!: II CONFERÊNCIA MUNICIPAL DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA...: Discutir, promover e reivindicar a efetivação e implementação das propostas da Convenção da ONU sobre os Direitos da Pessoa com Deficiência,...
sábado, 4 de fevereiro de 2012
HOMOFOBIA É TABU EM SALA DE AULA
Capacitação de professores e nova abordagem do tema, relacionando-o com ciências humanas, são necessárias para que o problema seja repensado
Fonte: Gazeta do Povo (PR)
Atos de homofobia por discriminação ou violência são uma realidade em salas de aula, o que reforça a importância de debates sobre a diversidade sexual nas escolas. O problema é que muitas vezes faltam capacitação e preparo para o profissional de Educação lidar com um assunto que já não é novidade, mas que para muitos continua um tabu.
A dificuldade de discutir a violência contra homossexuais em instituições de ensino foi objeto de estudo da tese de doutorado “O silêncio está gritando: a homofobia no ambiente escolar”, defendida recentemente pelo presidente da Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Travestis e Transexuais (ABGLT), Toni Reis, na Universidad de la Empresa de Montevidéu, no Uruguai.
Reis fez uma pesquisa qualitativa em quatro escolas de Curitiba que mostrou que há homofobia no sistema de ensino.
O acompanhamento de discussões em grupos de estudantes e professores e entrevistas com responsáveis pelas escolas levaram à conclusão de que há políticas públicas para lidar com a questão, mas elas não são colocadas em prática. “Falta formação e falta discussão sobre o tema. Os professores não têm uma Educação continuada e se sentem inseguros para lidar com a situação”, conta Reis.
Professora do Núcleo de Educação da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Araci Asinelli da Luz considera que as escolas não têm trabalhado a sexualidade. “O que a escola faz é trazer a questão somente quando o problema aparece e mostra como ela não sabe lidar com o problema.”
Para ela, há ausência de políticas públicas claras para as salas de aula. “O desconhecimento é uma maneira das pessoas lidarem com a questão. Não ver ou não querer ver resolve o problema porque ele vai embora”, afirma.
Nova abordagem
O psiquiatra Lincoln César Andrade, especialista em sexualidade humana, afirma que os professores precisam ter contato com seu próprio preconceito para poderem trabalhar o tema com os alunos. Andrade explica que para que o professor vivencie o assunto, o ideal é que o trabalho seja feito em grupo para que o docente se coloque no lugar do aluno que sofre a homofobia e veja como é agressivo ter de esconder sua orientação sexual.
Os especialistas concordam que a abordagem sobre a homossexualidade na escola não é a mais adequada. Para eles, o tema não devia estar ligado às áreas de Saúde e Biologia. “Esse é um tema de Direitos Humanos. As pessoas têm que ser respeitadas. É preciso fazer valer isso no cotidiano e aceitar a diversidade como nossa realidade”, explica Araci.
A Secretaria Municipal da Educação de Curitiba (SME) tem um plano de ação que irá tratar da homofobia em outros campos. A previsão é de que o projeto seja implantado ainda no primeiro semestre deste ano.
“Geralmente, se trabalha o assunto na aula de Ciências. Não queremos que ele seja estritamente biológico, mas também histórico, social e cultural”, explica Elaine Beatriz de Oliveira Smyl, coordenadora de Educação para as Relações Étnicorracias e de Gênero da SME.
Reis, que viveu e vive a homofobia no seu cotidiano, concorda que a nova abordagem é necessária. “Parece óbvio que a homossexualidade deve ser tratada como direito humano. Eu, com 47 anos, especialização, mestrado, sempre achava que devia estudar o tema para as pessoas me respeitarem”, conta.
“Mas, não. O respeito tem que ser para com o ser humano, não importando outras coisas. Não precisa saber o que faz a pessoa ser homossexual; isso já carrega um preconceito. O que precisa é respeito”, completa Reis.
Após polêmica, MEC engaveta projeto
Suspensos desde maio do ano passado, os kits do projeto “Escola sem Homofobia” não têm prazo para chegar às salas de aula. Com a recente posse de Aloizio Mercadante como ministro da Educação, o ministério (MEC) não sabe como fica a situação do polêmico kit.
Composto por um guia para professores do ensino médio e três vídeos para serem passados em sala de aula, o kit gerou polêmica na bancada religiosa do Congresso e chegou a ser chamado por alguns de “kit gay”. Para a professora do Núcleo de Educação da UFPR, Araci Asinelli da Luz, o nome dado já é preconceituoso. “Quando se coloca um estigma desses, o preconceito da sociedade vem junto, como se o assunto tivesse que ser engolido goela abaixo.”
Araci destaca que o kit serve como medida de emergência. “Há necessidade de abordagem imediata, de um material de apoio que dê conta de corrigir alguns conceitos. A discussão está chegando na escola e os professores precisam ter uma referência”, diz.
O presidente da Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Travestis e Transexuais, Toni Reis, afirma que falta material didático para os professores trabalharem a questão. “Vamos ter que desenterrar esse material suspenso. Esperamos sensibilizar a presidente [Dilma Rousseff] para que cada município e estado tenha acesso a esse material.”
Para os dois, a resistência de alguns setores da sociedade ao tema dificulta a existência do kit. “Como o tema é polêmico, tentaram colocar uma dúvida sobre o material para tentar quebrar a confiabilidade dele. Ele precisava de revisões, mas já testei com alguns alunos de ensino médio e é um começo”, conta Araci.
Proibições
Reis também lembra que a suspensão do kit abriu precedente. “Em alguns lugares [como São José dos Campos, em São Paulo] surgiram projetos de lei que proíbem a discussão da diversidade sexual nas escolas”, lamenta.
Políticas públicas
Apesar de pouco abordado nas escolas, o combate à homofobia tem a ajuda de algumas políticas públicas. Veja quais são os programas da Secretaria de Estado da Educação:
Nome Social
Para estudantes travestis ou transexuais, acima dos 18 anos, o espelho do livro de registro de classe, o boletim e o edital de notas são redigidos com o nome social. As declarações e o histórico escolar ainda são feitos com o nome civil. No caso de profissionais da Educação, o nome social também é respeitado.
Encontro Estadual de Educação LGBT
O encontro promove o diálogo entre os educadores para torná-los qualificados para lidar com as diferentes temáticas referentes à homofobia. O evento é necessário, pois, com as diversas práticas discriminatórias, as crianças que sofrem diretamente com elas acabam desistindo dos estudos.
Saúde e Prevenção nas Escolas
Os cursos visam formar professores e profissionais da saúde para lidar com a promoção e a prevenção da saúde entre adolescentes e jovens. Entre os assuntos abordados estão conteúdos de gênero, diversidade sexual e direitos sexuais.
Protagonismo Juvenil
O programa procura desenvolver a Educação entre os alunos de escolas estaduais. São discutidos temas como uso de drogas, maternidade e paternidade responsável, racismo, gênero e diversidade sexual e prevenção de doenças sexualmente transmissíveis.
Fonte: Gazeta do Povo (PR)
Atos de homofobia por discriminação ou violência são uma realidade em salas de aula, o que reforça a importância de debates sobre a diversidade sexual nas escolas. O problema é que muitas vezes faltam capacitação e preparo para o profissional de Educação lidar com um assunto que já não é novidade, mas que para muitos continua um tabu.
A dificuldade de discutir a violência contra homossexuais em instituições de ensino foi objeto de estudo da tese de doutorado “O silêncio está gritando: a homofobia no ambiente escolar”, defendida recentemente pelo presidente da Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Travestis e Transexuais (ABGLT), Toni Reis, na Universidad de la Empresa de Montevidéu, no Uruguai.
Reis fez uma pesquisa qualitativa em quatro escolas de Curitiba que mostrou que há homofobia no sistema de ensino.
O acompanhamento de discussões em grupos de estudantes e professores e entrevistas com responsáveis pelas escolas levaram à conclusão de que há políticas públicas para lidar com a questão, mas elas não são colocadas em prática. “Falta formação e falta discussão sobre o tema. Os professores não têm uma Educação continuada e se sentem inseguros para lidar com a situação”, conta Reis.
Professora do Núcleo de Educação da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Araci Asinelli da Luz considera que as escolas não têm trabalhado a sexualidade. “O que a escola faz é trazer a questão somente quando o problema aparece e mostra como ela não sabe lidar com o problema.”
Para ela, há ausência de políticas públicas claras para as salas de aula. “O desconhecimento é uma maneira das pessoas lidarem com a questão. Não ver ou não querer ver resolve o problema porque ele vai embora”, afirma.
Nova abordagem
O psiquiatra Lincoln César Andrade, especialista em sexualidade humana, afirma que os professores precisam ter contato com seu próprio preconceito para poderem trabalhar o tema com os alunos. Andrade explica que para que o professor vivencie o assunto, o ideal é que o trabalho seja feito em grupo para que o docente se coloque no lugar do aluno que sofre a homofobia e veja como é agressivo ter de esconder sua orientação sexual.
Os especialistas concordam que a abordagem sobre a homossexualidade na escola não é a mais adequada. Para eles, o tema não devia estar ligado às áreas de Saúde e Biologia. “Esse é um tema de Direitos Humanos. As pessoas têm que ser respeitadas. É preciso fazer valer isso no cotidiano e aceitar a diversidade como nossa realidade”, explica Araci.
A Secretaria Municipal da Educação de Curitiba (SME) tem um plano de ação que irá tratar da homofobia em outros campos. A previsão é de que o projeto seja implantado ainda no primeiro semestre deste ano.
“Geralmente, se trabalha o assunto na aula de Ciências. Não queremos que ele seja estritamente biológico, mas também histórico, social e cultural”, explica Elaine Beatriz de Oliveira Smyl, coordenadora de Educação para as Relações Étnicorracias e de Gênero da SME.
Reis, que viveu e vive a homofobia no seu cotidiano, concorda que a nova abordagem é necessária. “Parece óbvio que a homossexualidade deve ser tratada como direito humano. Eu, com 47 anos, especialização, mestrado, sempre achava que devia estudar o tema para as pessoas me respeitarem”, conta.
“Mas, não. O respeito tem que ser para com o ser humano, não importando outras coisas. Não precisa saber o que faz a pessoa ser homossexual; isso já carrega um preconceito. O que precisa é respeito”, completa Reis.
Após polêmica, MEC engaveta projeto
Suspensos desde maio do ano passado, os kits do projeto “Escola sem Homofobia” não têm prazo para chegar às salas de aula. Com a recente posse de Aloizio Mercadante como ministro da Educação, o ministério (MEC) não sabe como fica a situação do polêmico kit.
Composto por um guia para professores do ensino médio e três vídeos para serem passados em sala de aula, o kit gerou polêmica na bancada religiosa do Congresso e chegou a ser chamado por alguns de “kit gay”. Para a professora do Núcleo de Educação da UFPR, Araci Asinelli da Luz, o nome dado já é preconceituoso. “Quando se coloca um estigma desses, o preconceito da sociedade vem junto, como se o assunto tivesse que ser engolido goela abaixo.”
Araci destaca que o kit serve como medida de emergência. “Há necessidade de abordagem imediata, de um material de apoio que dê conta de corrigir alguns conceitos. A discussão está chegando na escola e os professores precisam ter uma referência”, diz.
O presidente da Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Travestis e Transexuais, Toni Reis, afirma que falta material didático para os professores trabalharem a questão. “Vamos ter que desenterrar esse material suspenso. Esperamos sensibilizar a presidente [Dilma Rousseff] para que cada município e estado tenha acesso a esse material.”
Para os dois, a resistência de alguns setores da sociedade ao tema dificulta a existência do kit. “Como o tema é polêmico, tentaram colocar uma dúvida sobre o material para tentar quebrar a confiabilidade dele. Ele precisava de revisões, mas já testei com alguns alunos de ensino médio e é um começo”, conta Araci.
Proibições
Reis também lembra que a suspensão do kit abriu precedente. “Em alguns lugares [como São José dos Campos, em São Paulo] surgiram projetos de lei que proíbem a discussão da diversidade sexual nas escolas”, lamenta.
Políticas públicas
Apesar de pouco abordado nas escolas, o combate à homofobia tem a ajuda de algumas políticas públicas. Veja quais são os programas da Secretaria de Estado da Educação:
Nome Social
Para estudantes travestis ou transexuais, acima dos 18 anos, o espelho do livro de registro de classe, o boletim e o edital de notas são redigidos com o nome social. As declarações e o histórico escolar ainda são feitos com o nome civil. No caso de profissionais da Educação, o nome social também é respeitado.
Encontro Estadual de Educação LGBT
O encontro promove o diálogo entre os educadores para torná-los qualificados para lidar com as diferentes temáticas referentes à homofobia. O evento é necessário, pois, com as diversas práticas discriminatórias, as crianças que sofrem diretamente com elas acabam desistindo dos estudos.
Saúde e Prevenção nas Escolas
Os cursos visam formar professores e profissionais da saúde para lidar com a promoção e a prevenção da saúde entre adolescentes e jovens. Entre os assuntos abordados estão conteúdos de gênero, diversidade sexual e direitos sexuais.
Protagonismo Juvenil
O programa procura desenvolver a Educação entre os alunos de escolas estaduais. São discutidos temas como uso de drogas, maternidade e paternidade responsável, racismo, gênero e diversidade sexual e prevenção de doenças sexualmente transmissíveis.
Gravidez na Adolescência e co-responsabilidade Paterna: Percepção dos Pais frente à Gravidez
Resumo: O presente estudo focaliza a participação dos pais adolescentes no cuidado das crianças em famílias de camadas populares. Trata-se de uma pesquisa de abordagem qualitativa, em razão do caráter naturalístico, foi utilizado o método de estudo de caso, com realização de entrevistas semi-estruturadas com dois casais, do sul da Bahia, durante os meses de Agosto à Novembro de 2010. O Objetivo foi perceber como funciona a relação Pai/criança na prática, analisar as representações sociais elaboradas por esse sujeito sobre a sua nova realidade e sobre as mudanças ocorridas na sua vida familiar em razão desse fenômeno, no sentido de aliviar o impacto que a paternidade tem na vida desses meninos. Conclui-se que o fenômeno precisa ser compreendido em um contexto histórico e cultural específico, distinto de sua ocorrência décadas atrás, embora persista a identificação com papéis de gênero tradicionais, os novos pais desejam uma participação mais efetiva na vida dos filhos.
Palavras-Chave: Adolescência; Gravidez; Paternidade;
Palavras-Chave: Adolescência; Gravidez; Paternidade;
Resumen: Este estudio examina la participación de los padres adolescentes en el cuidado de los niños en familias de bajos ingresos. Se trata de un enfoque cualitativo, porque el personaje de naturalista, se utilizó el método de estudio de caso, realizado a través de entrevistas semi-estructuradas con dos parejas más bajos en el sur de Bahía, durante los meses de agosto a noviembre 2010. El objetivo era entender cómo las relaciones padre / hijo en la práctica, analizar las representaciones sociales elaboradas por este hombre acerca de su nueva realidad y los cambios en la vida familiar a causa de este fenómeno con el fin de aliviar el impacto de la paternidad tiene en las vidas de estos niños. Se concluye que el fenómeno debe ser entendido en un contexto histórico y cultural distinta específica, desde su aparición hace décadas, pero sigue a identificarse con los roles de género tradicionales, los nuevos padres quieren una participación más efectiva en la vida de sus hijos.
Palabras clave: adolescencia, embarazo, crianza de los hijos;
Palabras clave: adolescencia, embarazo, crianza de los hijos;
Introdução
A adolescência é a fase de transição entre a infância e a idade adulta, quando o desenvolvimento da sexualidade reveste-se de fundamental importância para o crescimento do indivíduo em direção à sua identidade adulta, determinando sua autoestima, relações afetivas e inserção na estrutura social. “A Adolescência nada mais é do que um novo nascimento de características mais elevadas e mais plenamente humana” (Hall, 1844-1924). Para Hall a vida emocional do adolescente é como uma oscilação entre tendências contraditórias: energia, exaltação, e superatividade são seguidas por indiferença, letargia desprezo; alegria exuberante, gargalhadas e euforia cedem lugar à disforia, depressão e melancolia.
Na Teoria do estabelecimento da identidade do ego, “o jovem se encontra em uma matriz social diferente, não confinada mais a sua posição de dependência da família. Agora ele procurará novas e mais satisfatórias expressões em relações fora do ambiente familiar. Os Pais participam da vida do jovem somente em virtude de sua história social e psicológica partilhada e de sua crença em comum no futuro” (Erikson, 1902). Em conformidade com Erikson, Mead, (1928) acredita que a tarefa principal dos adolescentes é a procura de uma identidade significativa. Entretanto, em uma sociedade democrática, essa tarefa torna-se difícil, porque o comportamento e os valores dos pais não são mais o modelo, pois estão fora de moda.
Desde que o adolescente aprende a avaliar seus comportamentos, comparando-os com os de seus companheiros de idade, passa a desprezar os valores paternos, trocando-os pelos de seus colegas. Diante disso nos deparamos também com os padrões culturais, que é à base da teoria de Benedict (1887-1948). Esse autor diz que uma descontinuidade de grande importância, no ciclo da vida, é o fato de que a criança deve assumir uma função sexual orientada para a paternidade. A contrastante função sexual, que antes da puberdade é de esterilidade e, com a maturidade, é de fertilidade sexual, não é responsável pela descontinuidade.
São as instituições sociais que determinam se o contraste entre a função sexual da criança e do adulto é experimentado de maneira continua ou descontinua, pois a influência dos fatores fisiológicos é alterada e canalizada pelas instituições sociais e experiências culturais.
Nossa cultura enfatiza a descontinuidade da função sexual. Assim na infância, sexo é coisa feia; até o casamento, a virgindade e a abstinência sexual são sustentadas como idéias sociais. Por conta disso, a gravidez na adolescência tem sido apontada como um "problema social”. Os argumentos na literatura que embasam essa afirmação enfatizam a desinformação juvenil, dificuldade de acesso aos métodos contraceptivos, a pobreza, as situações de marginalidade social, etc.
“Tratar da gravidez na adolescência é lidar com um acontecimento complexo, tendo em vista que implica o envolvimento de vários fatores de natureza social, econômica, psicológica e fisiológica” (Belo,Silva, 2004, Silva, Tonete, 2006).
A gravidez na adolescência é apresentada como uma perturbação à trajetória juvenil, inserida em um discurso alarmista, moralizante, normativo. Em geral, os estudos apontam o incremento das famílias monoparentais, chefiadas por mulheres, a constituição de uma prole numerosa, a esterilização precoce, o abandono escolar, a precária inserção no mercado de trabalho etc.
Porém autores como Barker e Heilborn acreditam que não deve haver uma contextualização do fenômeno gravidez na adolescência: “reduzir a gravidez a apenas um conjunto de sintomas orgânicos ou a dificuldades emocionais ou a problemas sociais (...) é empobrecer todo o processo e perder a oportunidade de trazer seu significado à tona para o sujeito e poder implicá-lo no processo.” (Barker; Castro, 2002).
Ao se tratar de pais adolescentes, autores como (Aberastury e Salas,1985), (Arilha,2001) e (Rena, 2001) consideram que a maternidade e a paternidade aceleram o caminho em direção à fase adulta, com transição prematura de papéis.
Levantamento bibliográfico realizado por (Lyra, 1997) e (Medrado & Lyra, 1999) verificou ser grande a lacuna de pesquisas no campo da saúde sexual e reprodutiva direcionadas ao sexo masculino, principalmente, aos pais jovens e adolescentes. Os mesmos autores verificaram também que esta não é apenas uma realidade brasileira, ao relatarem que estudos realizados nos EUA, em 1982 e 1993, destacam com ênfase a carência de informações sobre a paternidade, expondo a importância do apoio do parceiro à gestação e maternidade.
Estudos têm demonstrado que a presença do companheiro influencia favoravelmente na evolução da gravidez e diminui riscos e efeitos desfavoráveis à saúde da criança, pois a insegurança e a solidão podem causar riscos físicos e psicológicos, principalmente, quando a mulher é adolescente (Sant Anna & Coates, 2001, Lima, 2002). Estudiosos enfatizam que a participação do homem, desde o início da gravidez, é crucial para a preparação do exercício da paternidade, dando uma significativa contribuição ao equilíbrio afetivo do casal. Porém na maioria das vezes a sociedade parece ignorar um grande número de adolescentes que se tornam pais.
O Adolescente que vai ser pai na maioria das vezes fica grávido também, quer acompanhar o processo de gestação, quer cuidar do filho. No entanto, ninguém o vê. É ignorado pelas autoridades que praticamente desconhecem o problema, e pela sociedade que nunca pensou mais seriamente nesses meninos-pais. Mas eles existem, e exigem de nós reflexão, compreensão e atitude no sentido de aliviar o impacto que a paternidade tem na vida desses meninos. Diante disso pretendemos entender a percepção desses meninos da nova realidade que os cerca.
Objetivos
O Objetivo foi perceber como funciona a relação Pai/criança na prática, analisar as representações sociais elaboradas por esse sujeito sobre a sua nova realidade e sobre as mudanças ocorridas na sua vida, na vida familiar em razão desse fenômeno, no sentido de aliviar o impacto que a paternidade tem na vida desses meninos.
Ao desvendar esse fenômeno sob a perspectiva paterna, considerando suas representações sobre o mesmo, teve-se como finalidade obter subsídios para realizar intervenções junto às famílias que vivenciam tal situação.
Aspectos Metodológicos
Adotou-se, no presente estudo, a abordagem qualitativa, definida como aquela que se preocupa com um nível de realidade que não pode ser quantificado e que trabalha com o universo de significados, motivos, aspirações, crenças, valores e atitudes que, por sua vez, correspondem a um espaço mais profundo das relações, dos processos e dos fenômenos que não podem ser reduzidos à operacionalização de variáveis (Minayo, 1994). Utilizou o método de estudo de caso. O ‘estudo de caso’ surge na pesquisa médica e psicológica, com uma forma de análise aprofundada de um caso individual; considerado como uma metodologia qualitativa de estudo, pois não está direcionada a se obter generalizações do estudo e nem há preocupações fundamentais com tratamento estatístico e de quantificações dos dados em termos de representação e/ou de índices. O estudo de caso costuma utilizar pelo menos duas técnicas de coleta de dados: a entrevista e a observação; o estudo de caso não é “unidade de amostragem, portanto, não se pode generalizar ou inferir sobre os resultados. A observação participante foi um meio privilegiado de acesso aos informantes, por intermédio de visitas realizadas, durante um período de quatro meses, e registradas num diário de campo.
A técnica permitiu observar algumas situações com que os informantes se deparam normalmente e como se comportam diante delas, a fim de posteriormente descobrir as interpretações que eles têm sobre os acontecimentos observados (Becker, 1994). De forma complementar, realizamos entrevistas semi-estruturadas,com inicialmente oito perguntas abertas,sobre a co-responsabilidade paterna, com os dois casais que participaram da pesquisa. As entrevistas, realizadas individualmente, foram gravadas e transcritas. Pelas perguntas, procuramos nos aproximar dos discursos e vivências dos informantes sobre o cuidado dos filhos aos quais não tivemos suficiente acesso com a observação. O trabalho de campo se realizou nas “montanhas”, nome fictício de um bairro de Almadina, sul da Bahia, e em “vales”, nome fictício de um bairro de Ubaitaba, Sul da Bahia entre Agosto de 2010 e Novembro de 2010, com dois casais que no presente estudo serão identificados com nomes fictícios “Adão e Eva” e “João e Maria”.
O contato se iniciou com o apoio de profissionais da Unidade de Saúde da Família que funciona no bairro, os quais nos apresentaram à comunidade, levando-nos a algumas casas de moradores, o que nos permitiu identificar as famílias que seriam utilizadas na nossa pesquisa. Num segundo momento, Foram marcados os próximos encontros, optamos por realizar esse contato na casa das famílias, para conservar o contexto e a realidades dos casais. Por estarmos realizando uma primeira abordagem de uma temática pouco estudada, optamos por excluir famílias em que não havia a presença física do pai, nem contato com este, já que nelas seria mais difícil observar o fenômeno de interesse. Consideramos que esta é uma tarefa a ser retomada em futuras pesquisas.
O fato de as pesquisadoras serem estrangeiras, (não pertencer ao convívio dos mesmos) contrariando a expectativa inicial, revelou-se um elemento facilitador no trabalho de campo, uma vez que contribuiu para que os informantes se mostrassem abertos e tolerantes ao se sentirem valorados pelo interesse de alguém que "não é daqui" e que, portanto, precisava de explicações detalhadas para compreender os informantes. Ser visitado por um estrangeiro era visto como uma deferência no contexto pesquisado.
Vários participantes esperavam que o contato fosse com as mulheres, o que se evidenciou em expressões de estranhamento diante de nossas tentativas utilizar os homens como foco de pesquisa. A aproximação com os homens se deu de forma paulatina, partindo-se de contatos iniciais com as mulheres. Em alguns momentos, usamos a mediação das mulheres como um recurso para sentir segurança. Por exemplo, ao ficar em ambiente privado com o marido/namorado fazíamos com que a parceira ficasse sabendo e de certa forma autorizasse.
Foram elaborados Termos de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) em atenção aos Princípios éticos. Foram elaborados termos específicos para pais, adolescentes e a Coordenação do Curso de Psicologia, Unime, Itabuna, por se tratar de um trabalho acadêmico.
A segunda fase de análise, que se iniciou após a conclusão da coleta de dados, incluiu o processamento das notas de campo e das entrevistas transcritas; A "análise abrangente final" se deu num terceiro momento, em que predominou o trabalho de síntese e interpretação. O presente artigo é produto de dita síntese e está organizado em quatro categorias temáticas: (a) Descrição do ambiente onde vivem, vinculado às condições de vida e ao sistema de crenças sobre a criação de filhos; (b) a inserção paterna no cuidado cotidiano dos filhos; (c) o contexto familiar como contexto que influencia a inserção paterna no cuidado dos filhos; e (d) as perspectivas futuras. Os títulos usados para apresentar os resultados constituem uma adaptação das categorias temáticas a uma linguagem próxima do contexto etnográfico.
Resultados e Discussões
As famílias em Montanhas e Vales
Atualmente, no Brasil e em diferentes países, indicadores apontam para a alta prevalência de partos e nascimentos entre adolescentes, em todas as classes sociais, embora com maior impacto no baixo nível socioeconômico (Guimarães, 1994, 2001, Costa et al., 1999, 2001). No presente estudo, Montanhas é um bairro localizado na área periférica de Almadina, e Vales é um bairro também localizado em uma área periférica em Ubaitada, ambos no sul da Bahia, Brasil. Nas áreas visitadas, as casas eram a maioria de alvenaria, mas algumas eram feitas de madeira, essa realidade pode ser notada em ambos os bairros visitados. Não havia saneamento básico aparente, e pouquíssimas ruas eram de paralelepípedos.
Os sujeitos da pesquisa, que se autoclassificam como pobres, têm acesso insuficiente à serviços básicos. É comum que os moradores reclamem das deficiências dos serviços de saúde, no caso de serviços mais graves, os pacientes são deslocados para a cidade de Itabuna. Devido à limitada inserção no mercado de trabalho a maioria vive de biscates, e são induzidos a trabalhar pelos pais desde muito novos.
“Eu não posso ficar assim a vida toda... Só... Fazendo uma coisa aqui, uma coisa ali... Não assim também eu não quero... Eu quero um negócio certo...” [Adão, 18 anos - Montanhas]
O bairro alberga igrejas católicas e pentecostais, que funcionam também como espaços de socialização e lazer para adultos e crianças.
“A gente mora na cidade pequena, aqui não tem pra onde ir, a gente vai muito pra igreja, Buscar a Deus... [Maria, 15 anos- Vales]
Das famílias acompanhadas nenhuma tem algum tipo de renda fixa, por se tratar de pais adolescentes ambos recebem ajuda de seus pais, porém a quantia que recebem não é suficiente para manter uma vida razoavelmente digna. Mesmo sendo jovem o Pai trabalha pra manter a casa, em ambos os casos, no entanto o que ganha no trabalho é apenas um complemento dada a instabilidade no emprego, o tipo de trabalho realizado pelos informantes varia em função das oportunidades. Contudo, trata-se de ocupações consideradas pouco qualificadas como serviços gerais e segurança, entre os homens, o que pode estar vinculado com a baixa escolaridade encontrada entre os informantes. Normalmente as mulheres se encarregam dos cuidados da criança e da própria casa.
“Graças a Deus... Eu fiz curso... Fiz curso de segurança, quando eu morava em São Paulo...” [Adão, 18 anos- Montanhas]
“(respiração) A rotinha gente (...)Tudo diferente. (...) o bebê dá (...) Trabalho (risos) (...) Toma muito tempo, ai agora eu to tendo que cuidar de casa, do bebê, é pior ainda... Minha sorte é mainha que ainda fica com ela, entendeu? Ele (Adão) Só segura de vez em quando (balança a cabeça, em um ato de negação), ele não é de ficar muito com ela não (...) ” [Eva,17 anos- Montanhas]
“Eu engravidei, antes de terminar o colegial, e dai pra cá nunca mais voltei... hoje em dia eu cuido de casa, de filho...” [Maria 15 anos – Vales]
“(respiração) A rotinha gente (...)Tudo diferente. (...) o bebê dá (...) Trabalho (risos) (...) Toma muito tempo, ai agora eu to tendo que cuidar de casa, do bebê, é pior ainda... Minha sorte é mainha que ainda fica com ela, entendeu? Ele (Adão) Só segura de vez em quando (balança a cabeça, em um ato de negação), ele não é de ficar muito com ela não (...) ” [Eva,17 anos- Montanhas]
“Eu engravidei, antes de terminar o colegial, e dai pra cá nunca mais voltei... hoje em dia eu cuido de casa, de filho...” [Maria 15 anos – Vales]
No que diz respeito às atitudes masculinas diante da gestação, (Montgomery, 1998) relata que a resposta do homem ocorre de diferentes maneiras, podendo ser de entusiasmo, resistência e/ou ambivalência. A aceitação da gravidez pela adolescente e o pai da criança são apontados por (Sant Anna, 2000) como aspectos positivos relacionados à evolução gestacional. Segundo (Maldonado, 1989), a recusa do homem para aceitar a paternidade pode gerar inquietações ao longo da vida e quando esta atitude ocorre na juventude pode gerar conflitos que vêm a interferir no relacionamento posterior desses com filhos e família. No presente estudo tanto para os Jovens Pais quanto para as Jovens Mães os filhos são muito importantes, e motivo de grande alegria, e em nenhum dos casos foi relatado pretensão de aborto.
“Eu fiquei feliz(...) Eu sempre fui louca por crianças... (risos eufóricos) Eu acho que a gente foi mais diferente das outras... De outras pessoas... Porque ele também ficou louco (risos eufóricos)... Ah! (risos eufóricos) ficou louco... Feliz... A gente teve a sorte que deu tudo bem...” [Eva, 17 anos- Montanhas]
“Eu fiquei feliz cara... Bastante feliz... Porque a gente... Queria ter essa... esse filho né? (...) Na hora que ela falou pra mim que estava grávida... Eu falei ah! Fiquei super feliz... Eu só não, eu minha família, minha mãe, meus irmãos, a própria mãe dela, a família dela também ficaram muito feliz, Graças a Deus, até hoje, tipo assim, algo que aconteceu na minha vida antes... Como era minha vida antes... Agora, ta sendo agora... Antes e depois... Antes eu não estava ai pra nada, minha vida... Hoje não, hoje eu tenho filha, eu tenho responsabilidade... Eu tenho uma filha... Eu tenho que... Não só uma filha, mas hoje eu sou casado, sou um pai de família e a minha vida hoje mudou totalmente... É isso que eu tenho pra falar pra vocês, minha vida hoje (...) Mudou bastante e eu tô muito feliz com essa vida que eu tenho...” [Adão, 18 anos – Montanhas].
“Ah! No começo eu fiquei desesperada porque eu achei que minha mãe ia me matar, mas tipo, depois que ela não disse nada, ai fiquei numa felicidade que só vendo, porque eu queria mesmo que ele fosse o pai do meu filho...” [Maria, 15 anos - Vales].
“Quando eu soube? Feliz cara... Feliz... Foi uma felicidade... Eu queria ter essa criança, ela também queria ter essa criança... e é isso...” [João, 17 anos – vales].
“Eu fiquei feliz cara... Bastante feliz... Porque a gente... Queria ter essa... esse filho né? (...) Na hora que ela falou pra mim que estava grávida... Eu falei ah! Fiquei super feliz... Eu só não, eu minha família, minha mãe, meus irmãos, a própria mãe dela, a família dela também ficaram muito feliz, Graças a Deus, até hoje, tipo assim, algo que aconteceu na minha vida antes... Como era minha vida antes... Agora, ta sendo agora... Antes e depois... Antes eu não estava ai pra nada, minha vida... Hoje não, hoje eu tenho filha, eu tenho responsabilidade... Eu tenho uma filha... Eu tenho que... Não só uma filha, mas hoje eu sou casado, sou um pai de família e a minha vida hoje mudou totalmente... É isso que eu tenho pra falar pra vocês, minha vida hoje (...) Mudou bastante e eu tô muito feliz com essa vida que eu tenho...” [Adão, 18 anos – Montanhas].
“Ah! No começo eu fiquei desesperada porque eu achei que minha mãe ia me matar, mas tipo, depois que ela não disse nada, ai fiquei numa felicidade que só vendo, porque eu queria mesmo que ele fosse o pai do meu filho...” [Maria, 15 anos - Vales].
“Quando eu soube? Feliz cara... Feliz... Foi uma felicidade... Eu queria ter essa criança, ela também queria ter essa criança... e é isso...” [João, 17 anos – vales].
No que se refere à situação conjugal, a gravidez na adolescência tem sido apontada como um importante fator precipitante da união não formal e coabitação entre os casais (Nolasco, 1995, Souza, 1998, Leal, 1999, Lyra, 2001). Estudo realizado por (Moura, 2003) com gestantes adolescentes e adultas jovens, nos acompanhamentos pré-natal em serviço público de referência em Feira de Santana, verificou que 44,1% das gestantes coabitavam com o pai da criança e 46,6% com as famílias. Pesquisa multicêntrica realizada em Porto Alegre, Rio de Janeiro e Salvador apontou que a maioria das gestações entre adolescentes ocorreu na ausência da união conjugal, em que 74,2 moravam com suas famílias de origem e apenas 15,8% das gestantes coabitavam com o parceiro (Aquino et al., 2003). Os resultados do presente estudo concordam com essas pesquisas, no qual foi observada mudança significante no perfil da situação conjugal e da coabitação dos co-responsáveis, entre as ocasiões da gestação e da entrevista, com diminuição da proporção de solteiros e aumento dos casados e da comunhão livre. Assim com apontam as pesquisas, no presente estudo as crianças foram fundamentais para a fundação da família, dado que para os casais a união foi precipitada pela gravidez.
O Ministério da Saúde do Brasil, através da Divisão Nacional de Saúde Materno Infantil, (1989) vem enfatizando sobre as condições de vida de mães adolescentes, dentre estas destacando que a coabitação com o companheiro é primordial para a evolução da gestação. Estudos ressaltam a importância de reconhecer, entre as gestantes e mães adolescentes, o estágio de desenvolvimento psicológico e o grau de aceitação da gravidez, fatores diretamente relacionados às condições ambientais, incluindo a relação com a família e o parceiro, os quais podem interferir decisivamente na evolução gestacional (Sant Anna, 2000). No caso em estudo, inicialmente o fato de viver em casa de parentes, especialmente da mãe, gerou para ambos os casais conflitos; o que fez com que mesmo diante das dificuldades materiais, os informantes buscassem uma identidade própria saindo da casa dos pais e indo morar de aluguel.
“oh (...) Pra ser verdadeiro com vocês aqui... Não, no começo foi muito bom... Mas teve uns probleminhas entre eu e a família dela (sussurrou) (...) Umas confusões... Ficou separado pouco tempo... Separado (...) Mas depois graças a Deus... Deus foi aos poucos, conduzindo a minha vida, a vida dela, da família dela também... E foi arrumando... Arrumando aos poucos... A nossa...vida... nossa casa...” [Adão, 18 anos – Montanhas]
“Na verdade eu preferia ficar na casa da minha mãe, porque lá eu tinha menos trabalho, mas o meu marido e meus pais não podem viver juntos, ai a solução foi alugar essa casa... [Maria, 15 anos- Vales]
“Morávamos com meus sogros, mas tivemos que sair de lá... Não gosto muito de lembrar... Assim tá melhor...” [João, 17anos- Vales]
“Na verdade eu preferia ficar na casa da minha mãe, porque lá eu tinha menos trabalho, mas o meu marido e meus pais não podem viver juntos, ai a solução foi alugar essa casa... [Maria, 15 anos- Vales]
“Morávamos com meus sogros, mas tivemos que sair de lá... Não gosto muito de lembrar... Assim tá melhor...” [João, 17anos- Vales]
Ainda que este não seja o caso de nossos informantes, em Montanhas e Vales é comum que avós maternas e paternas "peguem os netos para criar", situação que constitui um exemplo de circulação de crianças. Isso tem a ver com a equivalência estabelecida, também por nossos informantes, entre mães e avós. Dado que "a avó é a segunda mãe", é natural que ela cuide cotidianamente dos netos.
“Minha sorte é mainha que ainda fica com ela, entendeu?” [Eva, 17 anos- Montanhas]
“Se não fosse mainha eu nem sei viu?” [Maria, 15 anos – Vales]
“A paternidade é vivenciada, como uma possibilidade de mudanças, que integra sentido à vida pessoal e implica responsabilidades e desafios a enfrentar: conviver, quem sabe casar, trabalhar. Sua vida se estrutura, adquire sentido”. (Olavarría, 2001).
“E depois que nossa filha nasceu minha vida ganhou um novo rumo... Sabe... Eu sou pai... Tenho uma mulher agora... e sou mais feliz também... Graças a Deus... Ela (bebê) veio pra mudar minha vida... e mudou... Mudou muito... Até minha relação com a Eva ficou melhor... A gente briga... Mas agora somos uma família...” [Adão, 18 anos – Montanhas]
“Se não fosse mainha eu nem sei viu?” [Maria, 15 anos – Vales]
“A paternidade é vivenciada, como uma possibilidade de mudanças, que integra sentido à vida pessoal e implica responsabilidades e desafios a enfrentar: conviver, quem sabe casar, trabalhar. Sua vida se estrutura, adquire sentido”. (Olavarría, 2001).
“E depois que nossa filha nasceu minha vida ganhou um novo rumo... Sabe... Eu sou pai... Tenho uma mulher agora... e sou mais feliz também... Graças a Deus... Ela (bebê) veio pra mudar minha vida... e mudou... Mudou muito... Até minha relação com a Eva ficou melhor... A gente briga... Mas agora somos uma família...” [Adão, 18 anos – Montanhas]
Os pais, mesmos muito jovens têm os filhos Como fonte de gratificação, por serem objetos de amor: "gosto muito de criança", [Eva, Adão, João, Maria; usam essa frase em algum momento do seu discurso.] e, com os filhos se mantém a esperança de que eles consigam mais do que os pais, tal como Adão 18 anos [Montanhas] comenta:
“Dar o melhor pra minha filha... Um futuro... que ela faça faculdade que ela vá progredir... Que seja uma pessoa que venha crescer...”
O lugar do pai nos cuidados cotidianos: "Isso é coisa de mulher, entendeu?"
Segundo (Ramires, 1997), no que se refere aos filhos, os homens só estão excluídos do ato de gestar e amamentar, podendo ser sujeitos co-participantes em todos os momentos, auxiliando, apoiando mãe e filho e fortalecendo os laços entre eles. Do ponto de vista social, o registro civil é considerado uma das atitudes mais legítimas do reconhecimento da paternidade, nos casos em estudo a participação paterna no cuidado das crianças foi se desenvolvendo com o tempo, em ambos os casais, nos inicio segundo os nossos informantes eles não tinham acesso aos cuidados do bebê, por serem considerados incapazes de exercer esse papel, muitas vezes por um pequeno deslize, ao trocar uma fralda, ou qualquer erro no cuidado prestado, ouvia-se a tão repetida frase: “Isso é coisa mais de mulher, entendeu?"
“No começo eu nem chegava quase perto, olhava de longe e pronto... Era muito frágil... e como sempre escutava, homem é muito grosso pra essas coisas... Eu tinha medo de fazer algo errado... [João, 17 anos- vales]
“Homem não tem muito jeito pra cuidar de crianças” [Maria, 15 anos – Vales]
“Homem não tem muito jeito pra cuidar de crianças” [Maria, 15 anos – Vales]
O gênero da criança envolve diferenças importantes nos modos de cuidar. Homens e mulheres consideram que a menina precisa de mais cuidados corporais que o menino, na higiene e na arrumação. Para os informantes os cuidados que envolvem manipulação do corpo são considerados "negócio de mulher", algo que a mulher faz melhor, como parte de seus instintos e porque desde cedo se preparou para isso. Em contraposição, o pai teria um papel central na educação, esperando-se que seja a autoridade e coloque limites, especialmente para o filho homem.
"o banho, limpeza, esse negócio todo, na menina é mais sensível que o menino, fica mais fácil pra Eva fazer...” [Adão, 18 anos – Montanhas]
Mães e "ajudantes" na realidade familiar
A atuação do pai é definida como extradomiciliar, e a princípio não é equiparável a atividades que visem atender certas necessidades infantis, como dar banho, preparar alimentos, acompanhar nos deveres de casa, levantar durante a noite quando a criança está doente, enfim, tarefas que as mães estão habituadas a enfrentar, trabalhando fora ou não. Aquele pai poderia ser descrito como encarregado de inserir a criança no espaço ‘fora da casa’: leva-a à escola, para passear, brincar no parque, cortar cabelo, enquanto a mãe provavelmente a ensina a portar-se a mesa, cuidar da higiene corporal, a lidar com as tarefas escolares (Unbehaum, 2000). No presente estudo homens e mulheres coincidem em dizer que "mãe é mãe", e pai é "ajudante" por mais que usando diferentes termos. Ser mãe implica saber administrar a casa, oferecer uma alimentação adequada, "na hora certa”, auxiliar nas atividades escolares; para os informantes também são atribuições da mãe os cuidados corporais e as práticas de saúde, tanto as caseiras quanto as que envolvem serviços de saúde.
A forma em que se concretiza o papel de "ajudante", nas famílias pesquisadas, são em cuidados cotidianos externos, que envolvem satisfação de necessidades básicas, por meio do trabalho do homem, nas atribuições citadas acima é pouco expressiva o auxilio do ajudante, dando a impressão de que nessas famílias a participação paterna nas tarefas é parcialmente necessária.
“(...) Eu fico tipo...Pela manhã... Eu posso ficar até as 10:00 horasEu ajudo bastante... Eu cuido dela (Bebê) Eu fico com ela... Pra Eva fazer as coisas... Muitas vezes eu faço as coisas né, em casa... Eva fica com ela. Só chego o que meio dia, meio dia e meio pra almoçar... Fico até uma e meia, duas horas... Fico um pouco com ela também, depois eu saio... Ai retorno umas 5:30 da tarde... E vou ajudando ela a noite... Ela fazendo as coisas...Fazendo a janta... Faz um café. Lava uma louça... E eu fico com bebê... Muitas vezes eu lavo a louça(...) Ela fica com o bebê... o banho, limpeza, esse negócio todo, na menina é mais sensível que o menino, fica mais fácil pra Eva fazer... Eu ajudo bastante... Mas Eva faz mais... “ [ Adão, 18 anos – Montanhas]
“Só segura de vez em quando (balança a cabeça, em um ato de negação), ele não é de ficar muito com ela não (...) Mais pai é assim né? Ajuda... Mais a mãe que tem que se virar...” [Eva, 17 anos – Montanhas]
“Só segura de vez em quando (balança a cabeça, em um ato de negação), ele não é de ficar muito com ela não (...) Mais pai é assim né? Ajuda... Mais a mãe que tem que se virar...” [Eva, 17 anos – Montanhas]
"O Hoje e o amanhã"
No contexto da maternidade na adolescência, no que se refere à trajetória acadêmica, a literatura em geral tem mostrado que gestantes e mães adolescentes apresentam defasagem na escolaridade, com altas proporções de evasão e de abandono escolar, sendo a gravidez um dos fatores que pode contribuir para o afastamento da escola ou atraso no nível de instrução deste grupo, assim como, os determinantes socioeconômicos. Os resultados do presente estudo apontam perfil semelhante entre os co-responsáveis pela gestação, no qual foi verificado o aumento dos índices de abandono escolar, entre as ocasiões estudadas, sugerindo que a gravidez pode ter contribuído para a defasagem escolar dos homens avaliados, concordando com os achados de pesquisas nessa área (Guimarães, 1994, Schor, 1995, Costa et al., 1999, 2001, Aquino, 2003). No presente estudo um dos casais conclui o ensino médio, e o outro abandonou a escola ainda muito cedo. Porém ambos mostrar um interesse no retorno à sala de aula, seja pra fazer cursos, seja pra continuar os estudos ou até mesmo fazer uma faculdade, na perspectiva de um futuro melhor pra os filhos.
“Estudar de novo... Eva também fazer faculdade, uns curso... (SIC) Alguma coisa assim, pra poder progredir na vida...” [Adão, 18 anos – Montanhas]
São muitos os sonhos para o futuro, no que diz respeito à vida econômica o estudo aparece como fator decisivo, sendo a ausência dele a causa de uma situação econômica desfavorável. O sonho de uma casa própria, de um emprego estável, de condições melhores de vida, e principalmente de uma vida melhor para os filhos são características comuns entre ambos os casais entrevistados.
“Futuramente... Deus vai dar um... com certeza, vai conduzir um emprego pra mim... Pra ela também... uma vida melhor pra mim, pra ela e pra nossa filha... Uma casa própria que a agente não tem... a gente tamo(SIC) de aluguel...” [Adão, 18 anos- Montanhas]
“(...) continuar a estudar, dar o melhor pra minha filha... Agora eu sou mãe e o mais importante agora é pensar nela... ter uma casa minha... sei lá... é difícil morar de aluguel... Depender ainda dos outros... Mas fé em Deus agente vai conseguir... é isso...” [ Eva, 17 anos – Montanhas]
“Quero ter minha casa, meu canto... Quero que minha filha seja advogada... Doutora... Eu queria ser... (...) Não deu... Mais ela vai ser... é Chique né?...” [Maria, 15 anos – vales]
“(...) continuar a estudar, dar o melhor pra minha filha... Agora eu sou mãe e o mais importante agora é pensar nela... ter uma casa minha... sei lá... é difícil morar de aluguel... Depender ainda dos outros... Mas fé em Deus agente vai conseguir... é isso...” [ Eva, 17 anos – Montanhas]
“Quero ter minha casa, meu canto... Quero que minha filha seja advogada... Doutora... Eu queria ser... (...) Não deu... Mais ela vai ser... é Chique né?...” [Maria, 15 anos – vales]
Considerações finais
O tema da paternidade tem alcançado dimensões cada vez maiores nos últimos anos, recebendo questionamentos e críticas sobre o exercício da paternidade e seus diversos modelos de pai: protetor, provedor, referência moral, ativo, responsável, participativo, cuidador, entre outros. Os questionamentos emanam de várias instituições e também dos próprios homens que passaram a se perguntar sobre sua paternidade em um cenário de significativas mudanças na relação com os filhos. Com o passar dos tempos, os homens começaram a expressar sua incapacidade para responder às demandas e expectativas que circunscrevem a qualidade de ser pai, considerando a velocidade das jornadas diárias de trabalho que, muitas vezes, limitam os pais de exercer de fato a paternidade.
O presente estudo nos permitiu conhecer alguns aspectos envolvidos na frequente ausência dos homens na vida dos filhos. É comum que se trate não de falta de interesse, mas da impossibilidade de manter a divisão do trabalho segundo a qual o homem é provedor e a mulher cuidadora e que, como consequência, o homem que deve ser provedor econômico de seus filhos tenda a perder contato com eles.
Foi percebido que a dinâmica dos jovens entrevistados não se apresentou tão diferenciada, tendo em vista o trabalho diário e o retorno à noite para casa que segundo os informantes impedia uma participação mais efetiva, porém em seus discursos nota-se que mesmo não tão presentes quanto às mães, os jovens pais se disponibilizam a dividir algumas tarefas com as companheiras, porém outras tarefas são vista como “negócio de mulher”. Neste sentido, evidenciou-se o que (Fuller, 2000) chama de mudanças e permanências no exercício da paternidade, ou seja, ao mesmo tempo em que é possível identificar pais mais presentes, envolvidos, cuidadores de seus filhos, também aparecem em suas falas, práticas de cuidados ainda conservadoras e baseadas nos modelos tradicionais, em que o pai era considerado figura onipotente, referência moral, educador, provedor e chefe do lar e à mãe caberia a tarefa de cuidar dos afazeres domésticos e dos filhos.
Muitas vezes, o que impede o jovem pai de participar mais intensamente dos cuidados é a jornada de trabalho e o tempo restrito em casa. Apesar de que, mesmo não estando presentes o tempo todo, os pais procuram qualificar suas relações com seus filhos, vivendo intensamente os momentos que podem compartilhar com eles. Essa qualidade na relação pai-filho é apontada por (Lamb, 1986) como fundamental nas relações de afeto e cuidado. Para ele, a presença ou ausência paterna não podem ser elementos suficientes para explicar a adequação ou não da relação pais (pai e mãe)-filhos.
Pode-se identificar nos depoimentos dos jovens entrevistados que a paternidade pode ser vivenciada nas mais diversas circunstâncias e que os sentidos atribuídos ao “ser pai” engendram relações mais afetivas, maior envolvimento e maior participação nos cuidados dos filhos. A reflexão que se faz importante nesse momento é que não se trata necessariamente do surgimento de um “novo pai”, mas, de uma preocupação maior em se estudar as relações do jovem pai com seus filhos, sem desconsiderar a existência da paternidade na adolescência, fato que, em tempos passados não recebia atenção.
A concepção da paternidade na adolescência configurada como irresponsável, descomprometida e sem muita importância “atravessou” a pesquisa, à medida que os entrevistados relatavam seu comprometimento com essa criança, mesmo sendo ele também ainda tão novo e para muitos ainda incapazes de assumir tal responsabilidade.
Olhar para as mencionadas dimensões tanto os motivos da ausência masculina quanto as múltiplas formas de estar presente constitui um desafio para futuras pesquisas e também para a atual construção das práticas de saúde.
É preciso, certamente, dar continuidade às presentes reflexões e, para isso, continuar estudando a paternidade em relação com o cuidado da saúde, procurando integrar a experiência individual com a vida familiar e as relações com o contexto social mais amplo.
Fonte: Gravidez na Adolescência e co-responsabilidade Paterna Percepção dos Pais frente à Gravidez - Desenvolvimento Humano - Psicologia Geral - Psicologado Artigos http://artigos.psicologado.com/psicologia-geral/desenvolvimento-humano/gravidez-na-adolescencia-e-co-responsabilidade-paterna-percepcao-dos-pais-frente-a-gravidez#ixzz1lRpAnbe1
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